Enquete #69. Água no solo
A utilização da água pelas plantas depende não somente da capacidade de água disponível (CAD), mas também da existência ou não de aspectos morfológicos no perfil de solo que interferem no tempo de permanência da água ao longo do perfil de solo.
Alguns aspectos morfológicos pedológicos que favorecem a permanência da água no solo são: a coloração mosqueada, ou variegada (figura 1); ou presença de fragipã, ou duripã, ou plintita ou petroplintita ou rocha na profundidade aproximada de 100-150 cm, assim as plantas vegetam vigorosamente até mesmo se os valores de CAD são baixos.
Para a cana-de-açúcar essa condição promovendo um maior tempo vegetativo da planta, limita o acúmulo de sacarose, porque não é atingido o período ideal de defict hídrico no ano.
Esse Argissolo coeso possui cor variegada desde o topo do horizonte B, por isso encharca-se muito facilmente.
Nessa condição, uma chuva de apenas 15 mm já é suficiente para tratores e veículos encalharem.
Abaixo do horizonte A escuro, o volume de água de chuvas anteriores aos de 15 mm acumulado em função do variegado, soma-se aos 15 mm da citada chuva, alagando toda área, consequentemente impossibilita a passagem normal desses veículos nas estradas de terra.
Outro exemplo, a presença de fragipã na profundidade de 110 cm do Espodossolo (figura 2) favorecendo o acúmulo de água no perfil, como consequência o maior desenvolvimento da cana-de-açúcar (figura 3 ao fundo). Isso ocorre em função da demora da drenagem vertical da água nesse perfil, por isso o maior crescimento vegetativo da cana de açúcar, em comparação com essa mesma variedade e manejo num local milimetricamente adjacente no Espodossolo sem fragipã no perfil.
Argissolos e Neossolos Quartzarênicos podem limitarem-se na paisagem
A figura 4 destaca o maior desenvolvimento vegetativo no Argissolo em função da água armazenada no horizonte B textural iniciando na profundidade de 50 cm, condição que eleva o vigor e o porte da cana-de-açúcar em relação ao Neossolo Quartzarênico, adjacente milimetricamente no mesmo talhão.
Isso deve-se a grande concentração de argila no horizonte B textural, exclusividade apenas do Argissolo onde é lenta a infiltração da água em subsuperfície.
Quando os mesmos fatores morfológicos tais como a coloração mosqueada, ou variegada; ou com fragipã (figura 5), ou duripã, ou com plintita ou petroplintita ou rocha que iniciam na profundidade menor que 100, ou seja, quanto mais próximos da camada arável, maior é tempo do encharcamento temporário do solo na camada arável, resultando na baixa taxa de respiração das raízes das plantas, ou causando moléstias especialmente as fúngicas; como exemplo, a gomose em citrus.
A figura 6 destaca o maior desenvolvimento vegetativo da cana-de-açúcar no Argissolo, em comparação com o Gleissolo que alagando-se frequentemente também limita o crescimento radicular no ambiente muito úmido.
Portanto, foram destacados vários exemplos da influência da morfologia do solo na água do solo, sem considerar a CAD.
Outra observação muito importante da água no solo está relacionada com a distribuição dos tipos de solos na paisagem, ou seja, no relevo, nas diferentes altitudes. PRADO, do Centro de Cana do IAC adotou no projeto AMBICANA a legenda prática de solos para as plantas, relacionando-a com o relevo do Brasil (figuras 7 e 8). Nessa legenda, quanto menor o número na simbologia do solo, maior seu grau de ressecamento.
Exceção existe para o Latossolo ácrico, que seca rapidamente apesar de argilosos e muito argilosos devido a forte microagregação da fração argila, o que favorece a percolação hídrica vertical muito rápida no perfil, semelhante aos solos arenosos.
Curiosamente os Latossolos ácricos são atípicos inclusive na condição química do horizonte B, apresentam pH alto e baixa saturação por bases.
Legenda prática pedológica do Instituo Agronômico (IAC)
L (de Latossolo), RQ (de Neossolo Quartzarênico), N (de Nitossolo), GX (de Gleissolo Háplico).
Argila dos Latossolos: 1 (16-25%), 2 (26-35%), 3 (36-60%), 4 (>60%)
Argila dos Nitossolos:3 (36-60%), 4 (>60%)
Argila dos Neossolos Quartzarênicos 1 (até 7%), 2 (8 a 15%)
Os demais solos do Brasil não foram incluídos nas figuras 7 e 8 porque apresentam grande variabilidade no perfil em termos de profundidade, textura nos horizontes superficial e sub superficial, teor de argila no topo do horizonte B, etc.
Existem duas possibilidades de distribuição dos tipos de solos na paisagem, desde o topo até a posição de terço inferior, limitando-se com as baixadas onde são encontrados os Gleissolos de textura variada (área de proteção ambiental ou APP).
- Solos mais arenosos (RQ-1) no topo, a medida que a altitude diminui, são identificados solos com maior teor de argila (figura 7), como exemplo muito comum na região de Lençois Paulista (SP);
- Solos mais argilosos (L-4) ocorrendo no topo, com a diminuição da altitude, os solos mais arenosos (figura 8), como exemplo muito comum na região de Pedro Afonso (TO).
Respostas: Alternativa correta 5
Alternativa | Votos (%) |
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1 - Os solos de locais mais próximos dos rios sempre os mais favoráveis em relação a água para as plantas na atividade agroflorestal. | 24,5 |
2 - A água no solo para as plantas deve ser estudada exclusivamente em função da fórmula da capacidade de água disponível, a pesquisa atual do assunto deve manter esse enfoque sempre. | 15,3 |
3 - A incidência de moléstias é maior no Argissolo (sem mosqueado ou variegado ou outra condição morfológica especial) com horizonte B iniciando na profundidade de 100 cm ou mais profundo em comparação com outro Argissolo (sem mosqueado nem variegado ou outra condição morfológica especial), mas com o horizonte B perto de 20 cm a partir da superfície. | 15.3 |
4 - O número 4 na simbologia dos Latossolos sempre representa o maior teor de água para as plantas. | 17,4 |
5 - Todas alternativas são incorretas. | 24.7 |
Total de votos | 919 |